O chiar das antigas peças do
autocarro, era só isso que se ouvia naquela viagem que já durava há mais de
duas horas. Parecia interminável, principalmente quando o desejo da chegada do
fim daqueles pensamentos só sucederia simultaneamente ao findar a longa viagem.
Duas horas e quinze minutos: o
mesmo barulho, os mesmos pensamentos. Ele não lhe saia da cabeça. Ela já não
sabia o que fazer. Durante um longo tempo tentou arduamente decifrar ser tão
enigmático, contudo em vão. Sentia-se cansada. Um cansaço que não lhe permitia
lutar, não lhe dava mais força para continuar. A luta era diária. A coragem
desvanecia-se. Há um ano que andava a fazer os impossíveis para que tudo desse
certo, todavia parecia-lhe que os astros conspiravam contra si. Queria estar
com ele, sentir a sua pele, o seu perfume, ver o sorriso, o seu olhar e rir-se;
rir-se com as palavras que os suaves lábios dele proferiam. De tudo isto, ela
tinha a certeza. Tudo isto parecia que ele evitava. Aquele jogo era jogado por
duas pessoas e ninguém sabia ao certo quem comandava. Sempre que ela tentava
desistir, ele aparecia repleto de carinho, palavras fofas, gestos meigos,
olhares ternurentos e toques suaves que a derretiam. Fazia-a sentir-se
importante e especial e era disso que ela precisava. Nessas alturas, ela
ganhava força para lutar e era aí que ele parecia ficar alheio a tudo, sereno
como se tudo tivesse sido nada. Se já antes ela sentia dificuldade em cativá-lo
por não conseguir ser para ele carinhosa como ele já pedira que ela fosse,
agora, com todo este cansaço e sem respostas da parte dele, muito menos. Não restavam forças para jogar o jogo de o entender e o
conquistar.
Duas horas e trinta minutos: a
viagem termina. O pensamento permanece. Recorda o último olhar, o último
sorriso, o último beijo, as últimas cumplicidades. Tal como a viagem, as forças
tinham terminado e o cansaço vencera. No entanto, as recordações, essas,
continuaram após a saída do autocarro, recordando-a a ela e a ele…